EDUCAÇÃO MODELO DE EXPORTAÇÃO

Em nenhum outro país, a educação profissionalizante é tão bem-sucedida quanto na Alemanha. A receita do sucesso é a combinação de prática e teoria e a valorização social dos jovens que optam por esse caminho.

Ensino profissionalizante alemão é modelo de exportação
Na Alemanha, os jovens que concluem a escola secundária, sejam os quatro ou cinco anos da Hauptschule [escola voltada para a qualificação profissional] ou os que concluem os nove anos do ginásio [escola direcionada para a universidade] têm a possibilidade de se candidatar a uma vaga no ensino profissionalizante. Basta ter um certificado escolar.

A vantagem do chamado “sistema dual” é que os jovens podem combinar o treinamento prático nas empresas com as aulas teóricas em uma escola profissionalizante (Berufsschule).

Markus Eickhoff, da Câmara de Ofícios de Colônia, elogia a particularidade desse sistema. “Os jovens têm a possibilidade de acumular muito conhecimento num período de treinamento de apenas dois a três anos e meio.”

O sistema alemão de educação profissionalizante é único no mundo. Já na Idade Média, o aprendizado de algumas profissões foi regulamentado em associações específicas. Desde 1869, existe a educação profissional obrigatória para quem tem menos de 18 anos. Hoje em dia, os jovens alemães têm entre 15 e 16 anos quando decidem se querem ou não seguir esse caminho. Se optarem pelo sim, eles deixam o caminho da universidade para aprenderem profissões como enfermeiro, marceneiro, cozinheiro ou bancário.

Atualmente, os jovens podem escolher entre 344 áreas profissionais. Para eles, o sistema é vantajoso, pois podem aprender com toda tranquilidade um ofício no comércio ou na indústria.

1,5 milhões de jovens alemães estão inscritos
em cursos profissionalizantes

As empresas também se beneficiam. “Os estudantes aprendem aquilo que está sendo demandado pela indústria”, explica Eickhoff. “Logo após o treinamento, eles já podem ser empregados.” Nos dias atuais – mais do que nunca – a Alemanha necessita urgentemente de mão de obra especializada.

Vagas limitadas

Atualmente, 1,5 milhão de jovens alemães estão inscritos nos cursos profissionalizantes. Entretanto, muitos não encontram vagas no sistema dual de educação. Isso se deve, em parte, ao aumento gradual, nos últimos anos, dos pré-requisitos necessários. Hoje, um mecânico de automóveis, por exemplo, precisa entender de eletrônica e, para isso, necessita de uma boa formação em matemática.

Quando podem escolher, as empresas dão preferência a alunos que tenham cursado o ginásio, em detrimento daqueles que cursaram a Hauptschule. Segundo o Instituto Federal para o Ensino Profissional (BIBB, na sigla em alemão), no ano passado 76 mil jovens não encontraram vagas nas instituições de ensino profissional.

“O problema é conseguir encontrar um local de treinamento apropriado”, explica Sirikit Krone, pesquisadora do Instituto para o Trabalho e Qualificação da Universidade de Duisburg-Essen, que analisa a transição dos adolescentes da escola para a vida profissional. Muitos jovens nem mesmo têm um certificado escolar, o que dificulta muito sua entrada no sistema dual de educação profissional. Krone observa que a porta de entrada é a conclusão da escola, razão pela qual se deve oferecer aos jovens a possibilidade de terminá-la.

Especialmente os jovens provenientes de famílias de imigrantes têm dificuldades para encontrar vagas no ensino profissional. Muitas vezes eles têm um currículo escolar reduzido em comparação com os demais e necessitam adquirir qualificações adicionais.

Os jovens podem escolher entre 344 áreas profissionais

Programas de treinamento para suprir essas necessidades são cada vez mais comuns não apenas nas agências de emprego, mas também nas empresas. Em alguns setores, como no caso do hoteleiro ou da gastronomia, é cada vez mais difícil encontrar candidatos a aprendiz, o que obriga as empresas a agir.

O treinamento é, em princípio, aberto a todos os jovens, incluindo os candidatos estrangeiros. As empresas analisam os currículos recebidos e convidam os estudantes para entrevistas de emprego. Muitas empresas exigem um período de estágio, para que o empregador possa conhecer o candidato e analisar se ele se encaixa ou não na sua equipe, explica Eickhoff.

Modelo made in Germany

Esse formato do sistema dual de educação existe apenas na Alemanha, e com algumas modificações, na Áustria e Suíça. Outros países tentam importar esse modelo, mas nem sempre com sucesso. Na França, por exemplo, apenas os estudantes com desempenho inferior acabam nos cursos profissionalizantes.

“Existem muitas tentativas de elevar o nível do ensino técnico e atrair alunos mais qualificados”, afirma Krone. Entretanto, em muitos países o ensino profissionalizante possui um status social inferior em comparação aos estudos acadêmicos.

Na Alemanha, ao contrário, o sistema dual de educação é um modelo de sucesso, que continua sendo desenvolvido. Por exemplo, alunos com formação escolar completa têm agora a possibilidade de combinar o ensino profissionalizante com o universitário, através de um modelo chamado de “graduação dual”.

Os jovens do ensino profissional são muito interessantes para as empresas porque eles conhecem os processos internos de produção, o que os torna potenciais gerentes e administradores.

“Eles são capazes de se comunicar em pé de igualdade com o pessoal da área de produção”, enfatiza Krone. Além disso, eles têm o talento necessário para atuar em nível gerencial. Também essa situação beneficia alunos e empresas.

Fonte: Revista DW Notícias – Julho de 2013
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